Duke

Sempre iria acontecer como em um pesadelo, andar 365 passos e mesmo as pernas, os pés mergulados na terra no ar no mar fazendo uma viagem, escutando multidões ao caminho do encontro em um lugar seguro, andar por ele com a certeza que todas as estações do ano já pasaram, e se tem saudades de Jimi Hendrix ou Janis Joplin, e ainda perseguindo trezentos e sessenta e cinco, sem ponto nem vírgula a pasos irregulares, caminha e prossegue até o ponto de encontro, uma ilha tão pequena num ponto, tão cercado de terra por todos os lados até o ponto em que a terra e o mar vão coincidir em uma fronteira como a praia e uma ilha tão pequena num ponto, cercado de terra por todos os lados até o ponto que a terra e o mar cão coincidir numa fronteira como a praia e uma ilha tão pequena, como outras ilhas em outros oceanos , mas só ilhas e um oceano, e chegar à ilha e beijar a terra areia e sair com a boca cheia de areia e chegar até a terra, com um bastão dividir a ilha em duas metades e proclamar a linha que divide a ilha como linha internacional da data; acontecer duas partes distintas da linha, o hoje e o amanhã, instituidos no dia de hoje.

Haverá um milagre geométrico, como duas metades exatamente iguais, ficar andando atravessando a linha que divide o tempo a linha a ilha em hoje e o amanhã, o amanhã e o hoje, ficar andando do hoje para o amanhã e ao contrário, decide-se a verdade formando no rosto rugas de preocupação e um gosto sanguíneo aparecendo na língua, no céu da boca, tremor nas duas faces, na geometria do oceano passam navios, três em caravana, um dia quente de 31 de Dezembro e se caminha do hoje para o amanhã com felicidade, árvores com frutos nessa ilha, lado a lado caminha-se fumando um cigarro e deixando a fumaça soprada confundir-se com um ente confuso e macio chamado nuvem, andar controlando o tempo que vai passar e está estabelecido o amanhã e o hoje.

Não que permaneçam : o tempo passa, os nomes do tempo vão ficando e nenhum vento ou mão humana apaga a linha que divide tanto o calor do sol irradiado queimando o tempo e o sol não deixa enxergar mais nada, o estado estar cansado deixando o corpo ajoelhar embaixo duma árvore que tem copa alta e agasalhando tanta sombra, sonata ao calor tocada provávelmente por Karl Richter, os olhos tela de cinema technicolor vão se fechando, vai se adormecendo até que o silêncio entre nos ouvidos oceano invadindo praias no cérebro,

Acordar na aurora. Dormiu-se, e agora, matizes do mesmo sol reavivam o ajuste da mente. Dormiu-se no lado do amanhã, quando acordar o sol é todo um ponto lá no longe, querendo ter um brilho, e é querer voltar para o hoje, defender o hoje, procriar o hoje, correr ultrapassando a linha de chegada, a linha internacional da data como linha de chegada da corrida, vamos ainda tentar defender o hoje, as árvores do hoje, silêncio e barulho dos animais esquisitos do hoje, a terra da areia do hoje e amanhã não é um desespero mas não se sabe, porém deveria, talvez porque o sono dormido foi bonito e tranquilo e agora acordar e o sol crescendo, cresendo tanto até o fim, formando-se o amanhã em hoje, dia velho, e não se pode parar o sol e agora olhar para o fim de tudo, transormando o hoje em amanhã e depois de amanhã contínuamente, porque para os gregos o dia começa nas bordas da aurora e só contam as horas na justa hora em que o sol nasce.

São Paulo, 1979

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